O “sem-cadeira” vagueava pela cidade, improvisando um sítio
para se sentar quase tão bem como construía a sua casa a partir de caixotes e
farrapos. Dia após dia, vivendo das cadeiras públicas, das cadeiras que lhe
eram oferecidas e das cadeiras que imaginava, o homem “sem-cadeira” ansiava por
ter uma cadeira de verdade.
Mais um dia como tantos outros, sentado num muro que serve
de cadeira, com um ar de quem analisa tudo e todos à sua volta, tal como um
sociólogo, ou com a aparência de quem deixou o seu próprio corpo ali pousado
enquanto o espírito vagueia algures.
Enquanto uns escreviam e empilhavam o futuro com pedaços de
esferovite o “sem-cadeira” foi surpreendido por uma espécie de duende alado com
um ar angelical, sentado numa cadeira. Era o Anjo dos Sem-Cadeira. Solidário
com o homem que interpelava, ofereceu-lhe uma cadeira de verdade, que se fundiu,
como que por magia, com muro onde o “sem-cadeira” estava.
No mundo real há falta de “anjos dos sem-cadeira” e demasiadas
pessoas sem qualquer tipo de conforto, que não possuem um objecto tão simples
como uma cadeira, ao qual não damos a menor importância. Desvalorizamos as
coisas mais básicas e por vezes
esquecemo-nos que há muitas pessoas que carecem de qualquer tipo de comodidade
ou até mesmo bens de necessidade primários.
@ Maus Hábitos
Os músicos de Bremen
No fio da navalha