O “sem-cadeira” vagueava pela cidade, improvisando um sítio para se sentar quase tão bem como construía a sua casa a partir de caixotes e farrapos. Dia após dia, vivendo das cadeiras públicas, das cadeiras que lhe eram oferecidas e das cadeiras que imaginava, o homem “sem-cadeira” ansiava por ter uma cadeira de verdade.
Mais um dia como tantos outros, sentado num muro que serve de cadeira, com um ar de quem analisa tudo e todos à sua volta, tal como um sociólogo, ou com a aparência de quem deixou o seu próprio corpo ali pousado enquanto o espírito vagueia algures.
Enquanto uns escreviam e empilhavam o futuro com pedaços de esferovite o “sem-cadeira” foi surpreendido por uma espécie de duende alado com um ar angelical, sentado numa cadeira. Era o Anjo dos Sem-Cadeira. Solidário com o homem que interpelava, ofereceu-lhe uma cadeira de verdade, que se fundiu, como que por magia, com muro onde o “sem-cadeira” estava.
No mundo real há falta de “anjos dos sem-cadeira” e demasiadas pessoas sem qualquer tipo de conforto, que não possuem um objecto tão simples como uma cadeira, ao qual não damos a menor importância. Desvalorizamos as coisas mais básicas e por vezes esquecemo-nos que há muitas pessoas que carecem de qualquer tipo de comodidade ou até mesmo bens de necessidade primários.
Bounce Chair Ideation
“It’s Raining Families” – futureplac…
Tunísia, 2004